quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Grupo de Vivência Ecumênica de Goiânia

Reunião de fevereiro do Grupo de Vivência Ecumênica de Goiânia
No último dia 24 de fevereiro o Grupo de Vivência Ecumênica de Goiânia esteve reunido, como acontece toda última segunda feira de cada mês. Desta vez conhecemos a história das Irmãzinha, suas origens com Irmãzinha Madalena e o Irmão Carlos. O que nove estás mulheres é o desejo de seguir radicalmente a Jesus presente nos mais pobres. Escutando a narrativa das irmãzinhas percorremos o mundo e vimos que é possível falar uma língua comum, a língua do AMOR.

Irmãzinhas de Jesus

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Para onde aponta a crise do clima


Conheço poucos jornalistas que com tanto afinco, inteligência, boa informação e senso de equilíbrio nos entrega textos de grande relevância sobre questões ecológicas e afins como Washington Novaes. Cada sexta-feira publica no Estado de São Paulo um artigo que vale ler e guardar. Todos no Brasil estamos sofrendo sob o calor intenso, falta de chuvas e de águas nos reservatórios. Por outro lado, enchentes devastadoras, localizadas, em várias regiões do país. Como entender estes eventos extremos? Que sinais são estes que a Terra nos está dando? Para onde nos conduzirá o aumento da temperatura que não para de subir? Estas interrogações nos são colocadas para nossa preocupação e como desafio para fazermos alguma coisa a fim de mitigarmos e adaptarmo-nos aos efeitos perigosos das mudanças climáticas. Publicamos neste blog este artigo do amigo Washinton Novaes pois nos orienta sobre a real situação da Terra e de nosso pais. Lboff          

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O noticiário recente sobre a mais longa estiagem no Brasil em seis décadas – e suas graves consequências em vários setores de atividade no país – traz consigo memórias incômodas e a sensação de despreparo do poder público e da sociedade   para a questão das mudanças do clima. Há muitas décadas numerosos  estudos científicos têm alertado para a gravidade e o agravamento progressivo das mudanças, para a necessidade de implantar sem perda de tempo políticas e programas de “mitigação” e “adaptação” a essas transformações. Mas têm encontrado pela frente o ceticismo – quando não o descaso.  Ou a crença nas avaliações dos chamados “céticos do clima”.

         Para não ter de recuar muito no tempo, o autor destas linhas retorna, por exemplo, ao que escreveu neste mesmo espaço há uma década (6/3/2004), quando o panorama na área do clima tinha causas opostas às de hoje: o Nordeste em janeiro daquele ano recebera um volume de chuvas sete vezes maior que sua média histórica; em alguns pontos de Goiás, em 50 dias chovera tanto quanto todo o ano anterior; açudes e barragens rompiam-se; abriam-se comportas para evitar rompimentos e provocavam-se graves inundações a jusante. Cientistas clamavam por um sistema oficial de informações que habilitasse a sociedade para programas de adaptação e mitigação – à semelhança do que a Europa já fazia, devolvendo seus rios ao curso natural, eliminando barragens, evacuando as margens de rios, implantando sistemas de drenagem urbana.  O então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, advertia: “São visíveis os sinais de mudanças climáticas, com inundações e secas cada vez mais graves”. Mas outro artigo  (26/23/2004)já acentuava que “no Brasil não se conseguiu ainda definir regras”, nem mesmo para um plano nacional de saneamento básico.

         Quem quiser recuar ainda mais no tempo, pode ir ao artigo de 31/7/1998, há mais de 15 anos, que se referia à maior estiagem no rio Cuiabá em 65 anos, que ameaçava o fornecimento de água a um milhão de pessoas – ao contrário do que acontecia no rio Branco, Acre, com “volumes inéditos de chuvas” levando a temer que se repetisse por aqui o drama pelo qual passava a China, com as maiores inundações em 40 anos, 2,5 mil mortos, um milhão de desabrigados. Dizia então o PNUD (ONU) que de 1967 a 1990 chegara a 3 bilhões o número de pessoas atingidas pelos desastres climáticos.

         Agora, São Paulo enfrenta os dias mais quentes desde fevereiro de 1943.  O “sistema Cantareira está à beira do colapso” (ESTADO, 8/2) e ameaça reduzir em 45% o  suprimento de toda a água na Região Metropolitana de São Paulo. O volume de água armazenado já caiu 13,7% em relação ao que era em 1930. Guarulhos sofre com  o racionamento dia sim, dia não. E o panorama se repete praticamente em todo o país, intensifica o consumo de energia elétrica.

Estudiosos como Sir Nicholas Stern dizem que o aumento da temperatura no mundo será de 4 a 5  graus até o fim do século. James Lovelock, autor da “teoria Gaia”, chega a prever (Rolling Stones, novembro de 2013) que “a raça humana está condenada” a perder mais de 5 bilhões da população até 2100, com o Saara invadindo a Europa, Berlim tonando-se mais quente do que Bagdá. A temperatura subirá 8 graus na América do Norte e Europa. Segundo a Organização Mundial de Meteorologia, “não haverá pausa no aumento da temperatura”; cada década será mais quente.

         Michael Bloomberg, o bilionário ex-prefeito de Nova York, hoje à frente de várias iniciativas “ambientalistas”, sugere o fechamento imediato de todas as minas de carvão mineral, a maior fonte de poluição – mas por aqui já colocamos em atividade as nossas termelétricas a carvão, as mais poluidoras e mais caras. Enquanto isso, a safra de soja em São Paulo já se perdeu em 40% (ESTADO, 7/2), com prejuizo de R$744 milhões. Em Goiás, já se foram 15%. E o mundo subsidia o consumo de petróleo.

         Não adianta mais exorcizar os que os “céticos” chamavam de ”profetas do Apocalipse”. Nem fechar os olhos à realidade. Temos de conceber e adotar com muita urgência um plano nacional para o clima. Que inclua regras rigorosas para a ocupação do solo, impeça o desmatamento, promova a recuperação de áreas, proteja os recursos hídricos. Obrigue os administradores públicos a tratar com urgência também do solo urbano e dos planos de drenagem , além da contenção das emissões de poluentes nos transportes.E que nos imponha repensar nossa matriz energética. É preciso conferir prioridade absoluta às fontes de energia “limpas” e renováveis. Avançar com a energia eólica, já competitiva e ainda desprezada. Estimular os formatos de energia solar, que avançam a toda a velocidade no mundo. Voltar a conferir preferência para as energias de biomassas, inclusive ao álcool, onde o Brasil foi pioneiro e agora importa dos Estados Unidos para baixar índices de inflação, com o etanol nas bombas prejudicado pela política anti-inflação de segurar os preços dos combustíveis.

         Não é só. Temos de caminhar sem retardo para conferir, na matriz energética, prioridade para a microgeração distribuída. Gerada localmente e consumida também localmente, essa microgeração – que pode ser, por exemplo, a resultante do aproveitamento de biogás  resultante dejetos animais, como se está fazendo no Paraná e se começa em outros lugares – permite ao produtor rural deixar de pagar contas de energia e ainda vender o excedente da produção para as distribuidoras. Sem “linhões” fantásticos, caríssimos (já temos mais de 100 mil quilômetros deles), desperdiçadores de energia. Sem megaprojetos de geração que custam os olhos da cara e exigem juros gigantescos.

 Esse é o caminho do futuro: o desenvolvimento local, com microgeração de energia. Sem concentrar a propriedade, sem concentrar a renda. E, se tivermos competência e sorte, reduzindo a emissão de poluentes e contribuindo para atenuar as mudanças do clima.


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Criaturas Vendidas

Rede um Grito pela Vida
Quando cheguei da Itália nos anos setenta  ficava encabulado quando assistia na TV  as chamadas sobre “crianças desaparecidas” e no meu subconsciente colocava a culpa nestes meninos e meninas rebeldes e fugiões.  A Campanha da Fraternidade deste ano sobre “tráfico humano” nos ajuda a entender  a brutalidade criminosa que está atrás dos desaparecidos , vendidos, escravizados: é coisa grossa que envolve no crime organizado pessoas da cidade e do interior, aqui, no meio de nós; pessoas  que por dinheiro  cometem barbáries acima do imaginável e que a maioria das vezes ficam “invisíveis”, escondidas e por isso raramente são alvos de denúncia. O tráfico humano tem uma abrangência grande: Tráfico para exploração do trabalho, Tráfico para exploração sexual, Tráfico para extração de órgãos, Tráfico de crianças e adolescentes etc... Se é “para a liberdade que Cristo nos libertou”(Gl  5,1) nós, que somos ou parecemos boa gente, não podemos ficar indiferentes. É por isso que quero registrar um encontro de pessoas comprometida com o projeto “ Um Grito pela Vida” promovido pela CRB  (Conferencia dos Religiosos do Brasil). Silenciosamente este grupo trabalha há quatro anos no projeto de sensibilizar as igrejas e a sociedade sobre a gravidade do problema do tráfico humano. Como prevenir? Como descobrir  os casos de tráfico humano? Como reintegrar estas pessoas feridas e machucadas devolvendo a elas o dom precioso da sua dignidade? Na reunião estavam presentes umas vinte pessoas, quase todas Irmãs de várias Congregações.  Fiquei impressionado pela seriedade e generosidade do compromisso destas pessoas:  cada uma delas tem histórias trágicas para contar, ações desenvolvidas para ajudar quem caiu no tráfico humano e, atualmente, todas elas estão viajando para todos os rincões do Estado para dar assessoria a grupos , escolas  e comunidades, sobre os assuntos da Campanha da Fraternidade. Para quem quiser se engajar no projeto “Um grito pela vida” o telefone é:  (CRB) 3224 6076.
Sergio Bernardoni

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A arte e a beleza nos levam a Deus.

CARAVIDEO recebe diploma de destaque cultural 2013

Uma coisa tão simples como abrir uma locadora de vídeo e administrá-a com sabedoria chegou a ser reconhecida oficialmente pela sua contribuição no campo da cultura cinematográfica no Estado de Goiás. É o que aconteceu com a Caravideo, que, na noite do dia 12 de fevereiro, no Palácio das Esmeraldas, numa solenidade presidida pelo Conselho Estadual de Cultura, recebeu pelas mãos do Governador, o diploma de Destaque Cultural do Ano 2013. Olhando naquele Salão a multidão de artistas presentes: músicos, atores, escritores, poetas, diretores, organizadores de Mostras,  nomes conhecidos  ou iniciantes das artes plásticas, fotógrafos, críticos, jornalistas etc..., eu estava sentindo de perto o poder da comunicação, no bem e no mal. Jesus Cristo foi um grande comunicador do Bem e nós, contemplando a sua imagem no meio do povo que o procurava e o escutava com avidez, podemos avaliar como a palavra e a beleza das artes nos podem aproximar de Deus. Mas todo mundo conhece a presença maléfica das drogas, ilícitas ou lícitas, na vida e nos ambientes dos artistas. O recente fim trágico do famoso ator Ph .Seymour Hoffman, é mais um, entre inúmeros, em que as drogas, ilícitas ou não, encurtaram a vida de grandes artistas.Parece que as drogas e o mundo das artes andam juntos. " E não só de drogas ilícitas são feitas tais tragédias. O álcool levou embora o rei do rock brasileiro, o baiano Raul Seixas. Em um dos últimos shows que fez, aqui em Goiânia, ele mal conseguia se manter em pé, tamanha a fragilidade de seu organismo. Com a depressão se entregou à bebida e morreu cedo, com apenas 44 anos" (Rogério Borges em o Popular de 13/2/14). Apesar da sensibilidade espiritual da maioria dos artistas, muitos deles ficam à margem da religião e das igrejas. Por que? À atenção que nestes últimos tempos o Governo Estadual e Federal estão tendo para o financiamento do mundo da Cultura, poderia corresponder uma atenção ainda maior, pela formação da consciência positiva dos artistas, das instituições culturais. sobretudo escolas e universidades, e também  das Igrejas. Por isso termino fazendo uma pergunta incômoda: porque a Igreja Católica de Goiânia não coloca uma maior atenção na celebração do próximo "Dia mundial das Comunicações"?

Cerimônia de entrega da Homenagem à CARAVIDEO

Pe. Sérgio Bernardoni e Wolmir Amado


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

''A Igreja está distante demais dos fiéis, mas os inovadores são maioria''. Entrevista com Hans Küng

Hans Küng - teólogo

"Agora, o Papa Francisco pode apelar à resposta da maioria dos fiéis sobre questões tão importantes no debate com os reacionários da Cúria. O Papa Emérito Bento XVI escreveu há pouco para mim, eterno rebelde, uma carta afetuosa em que se compromete a apoiar Francisco, esperando em cada sucesso seu." Em suma, substancialmente, é quase como dizer que Francisco é como Gorbachev, o homem novo contra os ortodoxos, mas com as pessoas ao seu lado. Eis a voz de Hans Küng, máximo teólogo católico crítico vivo, sobre a pesquisa chocante publicada nesse domingo no jornal La Repubblica e sobre o seu efeito na Igreja.
A reportagem é de Andrea Tarquini, publicada no jornal La Repubblica, 10-02-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Professor Küng, como você avalia a sondagem sobre os cristãos no mundo?
Tomados conjuntamente e analisados, esses dados revelam a extraordinária discrepância entre os ensinamentos da Igreja sobre questões fundamentais, como a família, e, ao contrário, a visão real dos católicos no mundo.
Para você, entre os muitos resultados da sondagem, quais são os mais importantes?
Para mim, o mais importante é a imensa maioria de consensos para o Papa Francisco: 87% dos católicos entrevistados em todo o mundo e 99% dos italianos estão de acordo com ele. É uma enorme manifestação de confiança para o Sumo Pontífice. Para mim, é um pequeno milagre, depois dos anos da crise de confiança que tinha investido contra a Igreja nos anos do Papa Bento XVI. Agora, em menos de um ano, o Papa Francisco conseguiu inverter a tendência dos sentimentos dos fiéis de todo o mundo.
E o Papa Emérito Bento XVI, a seu ver, ficará feliz ou triste com a resposta da sondagem?
Naturalmente, ver esses resultados irá lhe entristecer, especialmente repensando hoje nos últimos meses vividos por ele como pontífice, no seu mandato. Mas, seguramente, ele irá se alegrar com o fato de que agora se segue em frente, e ele, a meu ver, pensa mais no destino da Igreja do que naquilo que diz respeito a ele mesmo.
É só uma suposição sua ou você pode provar sobre o que você diz sobre os sentimentos de Joseph Ratzinger neste momento?
Eu acredito que explicarei melhor o pensamento de Bento XVI citando frases da sua recentíssima carta para mim.
Bento XVI lhe escreveu depois de anos de conflitos? E o que lhe escreveu?
Bem, espere só um momento, deixe-me pegar aqui na minha escrivaninha lotada esse manuscrito com a carta daSanta Sé endereçada por ele, pessoalmente, da sua residência de papa emérito. Data: 24 de janeiro de 2014. Remetente: "Pontifex emeritus Benedictus XVI". "Sou grato por poder estar ligado por uma grande identidade de pontos de vista e por uma amizade de coração ao Papa Francisco. Hoje, vejo como minha única e última tarefa é apoiar o seu Pontificado na oração." Acredito que são palavras muito belas. Certamente, escritas antes da publicação da sondagem. Essa escolha de inclinação do Papa Emérito Bento XVI me convence ainda mais.
E o que significa a sondagem para os bispos e, em geral, para a hierarquia eclesiástica?
Eu gostaria de distinguir três categorias de prelados. Para os bispos prontos para as reformas, e eles existem em todo o mundo, os resultados da sondagem significam um grande encorajamento: eles deverão se comprometer abertamente com as suas convicções e não ficar tímidos demais. Segundo, para os conservadores que têm as suas reservas: eles deveriam refletir sobre as suas reservas e deveriam ouvir os argumentos dos reformadores. Terceiro, para os bispos reacionários, presentes não só no Vaticano, mas em todo o mundo, eles deveriam abandonar a sua resistência obstinada e escolher a razoabilidade.
E o que significa a sondagem para a base, para os cristãos? Encorajamento à reforma a partir de dentro, como Gorbachev sonhou em vão para o socialismo real e o Império Soviético?
É importante o sinal de que o movimento para a reforma dentro da Igreja tem do seu lado a grande maioria dos fiéis. O movimento de reforma é apoiado pela base – movimentos de reforma, como o Nós Somos Igreja – mais do que apareceu até agora, mais do que dentro da Igreja oficial. É um fato em nível internacional.
Professor, há décadas, você pede mudanças e aberturas na Igreja. Foi o primeiro e pagou as consequências por isso. Para você, essa sondagem é uma vitória, uma vitória amarga, ou outra coisa?
Eu não me considero um vencedor, não liderei uma batalha por mim, mas sim pela Igreja. Evidentemente, eu tive muitas experiências amargas, mas é bom ver uma mudança na direção do Concílio Vaticano II. Eu tive a grande alegria de poder ver, ainda vivo, o sucesso das ideias de reforma da Igreja para a qual eu combati por tanto tempo, de poder ver o início da virada. Para mim, é um novo impulso vital, como diz Bento XVI, para este último trecho do percurso da vida que nós agora temos pela frente.
Que consequências o Papa Francisco deveria tirar dos resultados dessa sondagem?
Se eu pudesse lhe dar um humilde conselho, ele deveria seguir em frente com coragem no caminho em que está encaminhado e não ter medo das consequências.
Concretamente, o que isso significa?
Espero que ele use a arte da Distinção que ambos aprendemos na Pontifícia Universidade Gregoriana: onde há, segundo a sondagem, consenso na Comunidade eclesial, ele deveria propor uma solução positiva para o Sínodo. Onde há desacordo, ele deveria permitir e suscitar um livre debate na Igreja. Onde ele mesmo é de outra opinião com relação à maioria dos católicos, como sobre o sacerdócio para as mulheres, ele deveria nomear uma força-tarefa de teólogos e de outros cientistas, de homens e mulheres, para abordar o tema.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Como andam as Pastorais Sociais na Igreja de Goiânia?



No dia 8 de fevereiro  teve uma reunião, na sede da CNBB regional,  sobre as Pastorais  Sociais na Igreja do Centro Oeste (Goiás e Distrito Federal)  com a presença  do Bispo que acompanha as Pastorais Sociais no Brasil (Dom Guilherme bispo de Ipameri-Go) e do Bispo que acompanha este setor da Pastoral no Regional-Goiás e Brasília (Dom Eugênio, bispo de Goiás). Nenhum representante oficial da Arquidiocese de Goiânia estave presente. As obras de caridade não faltam: basta pensar no Cotolengo de Trindade, nas múltiplas atividades dos Vicentinos, nas várias pastorais sociais como a Carcerária, da Aids, do povo de rua, dos idosos etc... O mais importante é que a Igreja em si, a Igreja toda, a Igreja oficial, ande ao encontro dos outros, despojada  de tantas coisas que a seguram, aberta e missionária, à luz da palavra “solidariedade” que, conforme o papa Francisco (11.XI.130): “ é a palavra chave da Doutrina Social cristã”. Neste sentido todos nós cristãos “estamos chamados a ser pobres, a despojar-nos de nós mesmos, e por isso devemos aprender  a estar com os pobres, partilhar com quem não tem o necessário, tocar a carne de Cristo. O cristão não é alguém que enche a boca com pobres, não! É alguém que se encontra com eles, que olha para eles de frente, que toca neles. A Igreja deve despojar-se de qualquer mundanidade espiritual...do medo de abrir as  portas para ir ao encontro de todos, sobretudo dos mais pobres, dos necessitados, dos distantes, sem esperar... Despojar-se da tranquilidade aparente que as estrutura oferecem, certamente necessárias e importantes, mas que nunca devem obscurecer a única verdadeira força  que têm em si: Deus... É necessário seguir o caminho da pobreza, que não é a miséria – que deve ser combatida – mas é saber partilhar, ser mais solidários com quem está em necessidade, confiar em Deus e menos  nas nossas forças humanas”( Papa Francisco em Assis dia 04.10.3).
Na exortação “ A alegria do Evangelho” o papa Francisco sonha com uma “Igreja em saída” que sabe ir ao encontro de todos,  por que todos somos criados a imagem de Deus, sem medo e sem renunciar a nossa Fé. Por isso é necessária uma atenção renovada a movimentos como a Pastoral operária, o Grito dos  excluídos, a Pastoral do menor, a Pastoral da Terra e a muitos outros campos onde a Igreja colabora para a construção  de um mundo melhor. Ai da Igreja, se continuar “encurvada” sobre si mesma, esquecendo a família universal dos filhos de Deus!
Sergio Bernardoni

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Francisco muda o rosto da Igreja no Brasil

Papa Francisco implementou uma série de mudanças na Igreja do Brasil, país que visitou em 2013, com vistas a fortalecer as comunidades eclesiais de base, ao mesmo tempo que tirou espaço de alguns bispos de tendência conservadora e recompôs as relações com o governo da presidenta Dilma Rousseff, assinalaram acadêmicos e religiosos.
A reportagem está publicada no sítio espanhol Religión Digital, 03-02-2014. A tradução é de André Langer.
Em menos de um ano como Pontífice, o argentino Jorge Mario Bergoglio colocou em prática algumas reformas que “levam seu selo”, como o de ter enviado uma mensagem ao 13º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base(CEBs), observou Pedro Ribeiro de Oliveira, professor de Religião na Universidade Católica de Minas Gerais.
O encontro de cerca de 5.000 membros das CEBs, historicamente influenciadas pela Teologia da Libertação, aconteceu entre os dias 5 e 11 de janeiro passado no Ceará, um dos mais pobres do Brasil.
“É um gesto importante porque é a primeira vez que um Papa se abre assim às CEBs, onde se compartilha a ideia de uma Igreja libertadora”, opinou o monge beneditino Marcelo Barros.
Semanas antes do encontro das CEBs, uma entidade ligada ao Vaticano convidara o líder do Movimento dos Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, para participar de um seminário sobre a pobreza e a exclusão em Roma.
Pensadores da Teologia da Libertação, como o ex-sacerdote franciscano Leonardo Boff e o frade dominicano Frei Betto, expressaram elogios ao Papa, sua influência favorável sobre o movimento religioso ligado à população simples e sobre o bom diálogo com a presidenta Rousseff.
As relações entre o governo brasileiro e o Vaticano experimentaram uma aproximação desde a chegada do novoPontífice, que foi visitado pela Dilma em março de 2013.
Rousseff voltou a se reunir com o Papa mais duas vezes em julho passado, quando este permaneceu durante uma semana no Rio de Janeiro, onde participou da Jornada Mundial da Juventude, encerrada com uma missa da qual participaram milhões de jovens, em sua primeira viagem internacional.
Papa também adotou algumas decisões que afetaram a hierarquia eclesiástica brasileira, como a elevação a cardeal do arcebispo do Rio de JaneiroOrani Tempesta, e o afastamento da comissão que auditava o Banco do Vaticano do cardeal arcebispo de São Paulo, Odilo Pedro Scherer.
Rousseff, cuja agenda internacional em 2014 será bem apertada devido às eleições presidenciais, voltará à Santa Séeste mês para participar da cerimônia em que Tempesta será criado cardeal por Francisco, em outro gesto de aproximação, conforme publicou nesta segunda-feira o jornal O Globo.
Entretanto, observadores calculam que Odilo Scherer, um religioso considerado próximo ao Papa Emérito Bento XVI, que o criou cardeal, teria perdido espaço na estrutura de poder da Conferência dos Bispos do Brasil, depois que Francisco anunciou, no mês passado, sua saída do organismo que acompanha o Banco do Vaticano.
Outro arcebispo tido como conservador é Murilo Krieger, da Arquidiocese de SalvadorBahia, que também esteve ligado ao anterior Papa Joseph Ratzinger.
Geralmente, o arcebispo de Salvador é criado cardeal, uma tradição que não foi seguida por Francisco, o que foi uma medida “sintomática e que parece sintonizar com a comunidade católica dessa cidade que deseja um cardeal mais progressista”, opinou o professor Ribeiro de Oliveira.
Estão previstas para esta semana nas 12 dioceses do estado nordestino do Maranhão mobilizações contra a violência. O arcebispo de São LuizJosé Belisário da Silva, confia em que esta convocatória estimule a relação das paróquias com seus fiéis.
“A chegada de Francisco marca um grande momento, porque a Igreja estava um pouco ausente nos últimos tempos e este Papa, com sua grande simplicidade, tirou a Igreja do seu imobilismo”, assinalou Belisário à revista Carta Capital do último domingo.

CARTA FINAL DO 13º INTERECLESIAL DE COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE DO BRASIL AO POVO DE DEUS


Irmãs e irmãos da caminhada,
 
“Maria pôs-se a caminho ... entrou na casa e saudou Isabel ... bem aventurada tu que acreditaste ... as crianças estremeceram de alegria no ventre ...” (cf. Lc 1,39-45)
 
Em atitude romeira, o povo das Comunidades Eclesiais de Base de todos os cantos do Brasil colocou-se a caminho respondendo ao chamado da grande fogueira acesa pela Diocese de Crato-CE, convocando para o 13º Intereclesial. A luz da fogueira alumiou tão alto que fez acorrer representantes de Igrejas irmãs evangélicas e de outras religiões. Até foi avistada em toda a América Latina e Caribe, Europa, África e Ásia.
O Cariri, “coração alegre e forte do Nordeste”, se tornou a “casa” onde se encontraram a fé profunda do povo romeiro, nascida do testemunho do padre Ibiapina e do padre Cicero, da beata Maria Madalena do Espírito Santo Araújo e do beato Zé Lourenço, com a fé encarnada do povo das CEBs nascida do grito profético por justiça e da utopia do Reino.
Houve um encontro entre a Religiosidade popular e a Espiritualidade libertadora das CEBs. As duas reafirmaram seu seguimento de Jesus de Nazaré, vivido na fé e no compromisso com a justiça a serviço da vida.
Bem aventurado o povo que acreditou!
A moda da viola e da sanfona cantou este acreditar. As palavras de dom Fernando Panico, bispo de Crato, na celebração de abertura confirmaram este acreditar, proclamando: as CEBs são o jeito da Igreja ser. As CEBs são o jeito “normal” da Igreja ser. Jeito normal de o povo de Deus responder no hoje à proposta de Jesus: ser comunidade a serviço da vida.
Ao ouvir a proclamação desta boa noticia, o ventre do povo que veio em romaria para Juazeiro do Norte ficou de novo grávido deste sonho, desta utopia. A esperança foi fortalecida. A perseverança e a resistência na luta foram confirmadas. O compromisso com a justiça a serviço do bem-viver foi assumido.
E a alegria estourou como fogos a vista e do meio da alegria escutamos a memória da voz querida de dom Helder Câmara, a se fazer ouvir: Não deixem a profecia cair! Não deixem a profecia cair!
A profecia não caiu. Ecoou nas palavras do índio Anastácio: “Roubaram nossos frutos, arrancaram nossas folhas, cortaram nossos galhos, queimaram nossos troncos, mas não deixamos arrancar nossas raízes.” Raízes indígenas e quilombolas que afundam na memória dos ancestrais, no sonho de viver em terras demarcadas, livres para dançar, celebrar e festejar a terra que é mãe.
Emergiu a memória do padre Ibiapina, que já incentivava a construção de cisternas de pedra e cal e o plantio de árvores frutíferas, para conviver com a realidade do semiárido. Reanimava assim a esperança e a dignidade do povo sertanejo. O protagonismo da beata Maria Araújo canalizou os desejos mais profundos de vida e vida em abundância, o que incomodou os grandes e a hierarquia eclesiástica. O padre Cícero e o beato Zé Lourençocontinuaram acolhendo os excluídos no mesmo espirito de Ibiapina. Organizaram a comunidade do Caldeirão movida pela fé, trabalho, fartura e liberdade. Esta forma de convivência com o semiárido tem continuidade nas CEBs, nas pastorais e entidades comprometidas com os pobres.
A profecia ecoou na análise de conjuntura, que levou a constatar que o Brasil ainda precisa reconhecer que no campo e na cidade, não basta realizar grandes projetos. O grande capital prioriza o agro e hidronegócio e as mineradoras, continuando a expulsar do campo para concentrar as pessoas nas cidades, tornando-as objeto de manipulação e exploração, de concepções dominadoras e produtoras de profundas injustiças. O povo continua sendo despojado de sua dignidade: seus filhos e filhas definham no mercado das drogas e no tráfico de pessoas; é destituído de seus direitos à saúde, educação, moradia, lazer; a juventude é exterminada, obscurecendo a possibilidade de se projetar no futuro por falta de oportunidades; ainda existem preconceitos e outras violências marcam as relações de etnia, cor, idade, gênero, religião. Percebemos que transformar os cidadãos e cidadãs em consumidores é ameaça para o “Bem Viver”.
Ranchos (miniplenários) e chapéus (grupos) tornaram-se espaços de partilha das experiências de busca para compreender a sociedade que é o chão onde as CEBs labutam e vivem.
E nos passos de padre Cícero, as CEBs se tornaram romeiras nas veredas do Cariri, conhecendo realidades e comunidades; vivenciando a firmeza dos mártires e profetas; experimentando a partilha e a festa do jeito que o povo nordestino sabe fazer.
A sabedoria dos patriarcas e das matriarcas nos acompanhou resgatando a memória e orando: “Só Deus é grande”, “Amai-vos uns aos outros”.
A grandeza de Deus se revela nos romeiros, povo sofrido que ao assumir a organização da romaria, na prática da solidariedade, na reza e no canto dos benditos se torna protagonista e ressignifica o espaço da vida diária.
O amor é manifestado na profecia da mulher que no acariciar, no amassar o pão, na liderança e revolução carrega em seu ventre nossa libertação; na profecia que por amor à justiça se torna ecumênica; em Jesus de Nazaré que por primeiro viveu a justiça e a profecia a serviço da vida e nos desafia a sermos CEBs Romeiras do Reino no campo e na cidade.
A vivência comunitária no terreiro do semiárido renovou nosso acreditar. Exultamos de alegria como as crianças que saltaram de alegria no ventre das mães vislumbrando o novo. O Reino se fez presente no meio de nós.
Seus sinais estão presentes na irmandade: oramos e refletimos, reavivamos à nossa frente rostos de mártires e profetas da caminhada, refletimos e debatemos, formamos a mesma fila para comer juntos a gostosa comida doCariri, à mesma pia lavamos nossos pratos. Na circularidade do serviço, do canto, do testemunho reafirmamos o compromisso de ser CEBs: Romeiras do Reino, profetas da justiça que lutam pela vida, a serviço do bem-viver, sementes do Reino e da sua Justiça, comunidades profetas de esperança e da alegria do Evangelho.
Romeiros e romeiras sempre voltam para seu chão, repletos de fé e esperança. Nós também voltamos como romeiros e romeiras grávidos da utopia do Reino que é das CEBs. Voltamos para nosso chão, com uma mensagem do papa Francisco, bispo de Roma e Primaz na Unidade. Dele recebemos reconhecimento, encorajamento, convite a continuarmos com pisada firme a caminhada de sermos Igreja Romeira da justiça e profecia a serviço da vida.
Juntamo-nos à voz de Maria que louvou ao Deus da vida que realiza suas maravilhas nos humilhados. Unamos nossas vozes á sua para com ela derrubar os poderosos de seus tronos e elevar os humildes, despedir os ricos de mãos vazias e encher de fartura a mesa dos empobrecidos.
Irmãs e irmãos, vos abraçamos com amorosidade. Amém, Axê, Auerê, Aleluia

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

48º DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS


Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais
48º DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

Comunicação ao serviço de uma autêntica cultura do encontro
1 de Junho de 2014
Mensagem do Santo Padre Francisco
Queridos irmãos e irmãs, Hoje vivemos num mundo que está a tornar-se cada vez menor, parecendo, por isso mesmo, que deveria ser mais fácil fazer-se próximo uns dos outros. Os progressos dos transportes e das tecnologias de comunicação deixam-nos mais próximo, interligando-nos sempre mais, e a globalização faz-nos mais interdependentes. Todavia, dentro da humanidade, permanecem divisões, e às vezes muito acentuadas. A nível global, vemos a distância escandalosa que existe entre o luxo dos mais ricos e a miséria dos mais pobres. Frequentemente, basta passar pelas estradas duma cidade para ver o contraste entre os que vivem nos passeios e as luzes brilhantes das lojas. Estamos já tão habituados a tudo isso que nem nos impressiona. O mundo sofre de múltiplas formas de exclusão, marginalização e pobreza, como também de conflitos para os quais convergem causas econômicas, políticas, ideológicas e até mesmo, infelizmente, religiosas.
Neste mundo, os mass-media podem ajudar a sentir-nos mais próximo uns dos outros; a fazer-nos perceber um renovado sentido de unidade da família humana, que impele à solidariedade e a um compromisso sério para uma vida mais digna. Uma boa comunicação ajuda-nos a estar mais perto e a conhecer-nos melhor entre nós, a ser mais unidos. Os muros que nos dividem só podem ser superados, se estivermos prontos a ouvir e a aprender uns dos outros. Precisamos de harmonizar as diferenças por meio de formas de diálogo, que nos permitam crescer na compreensão e no respeito. A cultura do encontro requer que estejamos dispostos não só a dar, mas também a receber de outros.
Os mass-media podem ajudar-nos nisso, especialmente nos nossos dias em que as redes da comunicação humana atingiram progressos sem precedentes. Particularmente a internet pode oferecer maiores possibilidades de encontro e de solidariedade entre todos; e isto é uma coisa boa, é um dom de Deus. No entanto, existem aspectos problemáticos: a velocidade da informação supera a nossa capacidade de reflexão e discernimento, e não permite uma expressão equilibrada e correta de si mesmo. A variedade das opiniões expressas pode ser sentida como riqueza, mas é possível também fechar-se numa esfera de informações que correspondem apenas às nossas expectativas e às nossas ideias, ou mesmo a determinados interesses políticos e económicos. O ambiente de comunicação pode ajudar-nos a crescer ou, pelo contrário, desorientar-nos.
O desejo de conexão digital pode acabar por nos isolar do nosso próximo, de quem está mais perto de nós. Sem esquecer que a pessoa que, pelas mais diversas razões, não tem acesso aos meios de comunicação social corre o risco de ser excluído. Estes limites são reais, mas não justificam uma rejeição dos mass-media; antes, recordam-nos que, em última análise, a comunicação é uma conquista mais humana que tecnológica. Portanto haverá alguma coisa, no ambiente digital, que nos ajuda a crescer em humanidade e na compreensão recíproca? Devemos, por exemplo, recuperar um certo sentido de pausa e calma. Isto requer tempo e capacidade de fazer silêncio para escutar.
Temos necessidade também de ser pacientes, se quisermos compreender aqueles que são diferentes de nós: uma pessoa expressa-se plenamente a si mesma, não quando é simplesmente tolerada, mas quando sabe que é verdadeiramente acolhida. Se estamos verdadeiramente desejosos de escutar os outros, então aprenderemos a ver o mundo com olhos diferentes e a apreciar a experiência humana tal como se manifesta nas várias culturas e tradições. Entretanto saberemos apreciar melhor também os grandes valores inspirados pelo Cristianismo, como, por exemplo, a visão do ser humano como pessoa, o matrimônio e a família, a distinção entre esfera religiosa e esfera política, os princípios de solidariedade e subsidiariedade, entre outros.
Então, como pode a comunicação estar ao serviço de uma autêntica cultura do encontro? E – para nós, discípulos do Senhor – que significa, segundo o Evangelho, encontrar uma pessoa? Como é possível, apesar de todas as nossas limitações e pecados, ser verdadeiramente próximo aos outros? Estas perguntas resumem-se naquela que, um dia, um escriba – isto é, um comunicador – pôs a Jesus: «E quem é o meu próximo?» (Lc 10, 29 ).
Esta pergunta ajuda-nos a compreender a comunicação em termos de proximidade. Poderíamos traduzi-la assim: Como se manifesta a «proximidade» no uso dos meios de comunicação e no novo ambiente criado pelas tecnologias digitais? Encontro resposta na parábola do bom samaritano, que é também uma parábola do comunicador. Na realidade, quem comunica faz-se próximo. E o bom samaritano não só se faz próximo, mas cuida do homem que encontra quase morto ao lado da estrada. Jesus inverte a perspectiva: não se trata de reconhecer o outro como um meu semelhante, mas da minha capacidade para me fazer semelhante ao outro.
Por isso, comunicar significa tomar consciência de que somos humanos, filhos de Deus. Apraz-me definir este poder da comunicação como «proximidade». Quando a comunicação tem como fim predominante induzir ao consumo ou à manipulação das pessoas, encontramo-nos perante uma agressão violenta como a que sofreu o homem espancado pelos assaltantes e abandonado na estrada, como lemos na parábola. Naquele homem, o levita e o sacerdote não vêem um seu próximo, mas um estranho de quem era melhor manter a distância. Naquele tempo, eram condicionados pelas regras da pureza ritual.
Hoje, corremos o risco de que alguns mass-media nos condicionem até ao ponto de fazer-nos ignorar o nosso próximo real. Não basta circular pelas «estradas» digitais, isto é, simplesmente estar conectados: é necessário que a conexão seja acompanhada pelo encontro verdadeiro. Não podemos viver sozinhos, fechados em nós mesmos. Precisamos de amar e ser amados. Precisamos de ternura. Não são as estratégias comunicativas que garantem a beleza, a bondade e a verdade da comunicação. O próprio mundo dos mass-media não pode alhear-se da solicitude pela humanidade, chamado como é a exprimir ternura. A rede digital pode ser um lugar rico de humanidade: não uma rede de fios, mas de pessoas humanas.
A neutralidade dos mass-media é só aparente: só pode constituir um ponto de referimento quem comunica colocando-se a si mesmo em jogo. O envolvimento pessoal é a própria raiz da fiabilidade dum comunicador. É por isso mesmo que o testemunho cristão pode, graças à rede, alcançar as periferias existenciais. Tenho-o repetido já diversas vezes: entre uma Igreja acidentada que sai pela estrada e uma Igreja doente de auto-referencialidade, não hesito em preferir a primeira.
E quando falo de estrada penso nas estradas do mundo onde as pessoas vivem: é lá que as podemos, efetiva e afetivamente, alcançar. Entre estas estradas estão também as digitais, congestionadas de humanidade, muitas vezes ferida: homens e mulheres que procuram uma salvação ou uma esperança. Também graças à rede, pode a mensagem cristã viajar «até aos confins do mundo» (Act 1, 8). Abrir as portas das igrejas significa também abri-las no ambiente digital, seja para que as pessoas entrem, independentemente da condição de vida em que se encontrem, seja para que o Evangelho possa cruzar o limiar do templo e sair ao encontro de todos. Somos chamados a testemunhar uma Igreja que seja casa de todos.
Seremos nós capazes de comunicar o rosto duma Igreja assim? A comunicação concorre para dar forma à vocação missionária de toda a Igreja, e as redes sociais são, hoje, um dos lugares onde viver esta vocação de redescobrir a beleza da fé, a beleza do encontro com Cristo. Inclusive no contexto da comunicação, é precisa uma Igreja que consiga levar calor, inflamar o coração. O testemunho cristão não se faz com o bombardeio de mensagens religiosas, mas com a vontade de se doar aos outros «através da disponibilidade para se deixar envolver, pacientemente e com respeito, nas suas questões e nas suas dúvidas, no caminho de busca da verdade e do sentido da existência humana (Bento XVI, Mensagem para o XLVII Dia Mundial das Comunicações Sociais, 2013). Pensemos no episódio dos discípulos de Emaús. É preciso saber-se inserir no diálogo com os homens e mulheres de hoje, para compreender os seus anseios, dúvidas, esperanças, e oferecer-lhes o Evangelho, isto é, Jesus Cristo, Deus feito homem, que morreu e ressuscitou para nos libertar do pecado e da morte.
O desafio requer profundidade, atenção à vida, sensibilidade espiritual. Dialogar significa estar convencido de que o outro tem algo de bom para dizer, dar espaço ao seu ponto de vista, às suas propostas. Dialogar não significa renunciar às próprias ideias e tradições, mas à pretensão de que sejam únicas e absolutas. Possa servir-nos de guia o ícone do bom samaritano, que liga as feridas do homem espancado, deitando nelas azeite e vinho. A nossa comunicação seja azeite perfumado pela dor e vinho bom pela alegria.
A nossa luminosidade não derive de truques ou efeitos especiais, mas de nos fazermos próximo, com amor, com ternura, de quem encontramos ferido pelo caminho. Não tenhais medo de vos fazerdes cidadãos do ambiente digital. É importante a atenção e a presença da Igreja no mundo da comunicação, para dialogar com o homem de hoje e levá-lo ao encontro com Cristo: uma Igreja companheira de estrada sabe pôr-se a caminho com todos. Neste contexto, a revolução nos meios de comunicação e de informação são um grande e apaixonante desafio que requer energias frescas e uma imaginação nova para transmitir aos outros a beleza de Deus.
Vaticano, 24 de Janeiro – Memória de São Francisco de Sales – do ano 2014.
FRANCISCUS

Os rolezinhos nos acusam: somos uma sociedade injusta e segregacionista

O fenômeno dos centenas de rolezinhos que ocuparam shoppings centers no Rio e em  São Paulo suscitou as mais disparatadas interpretações. Algumas, dos acólitos da sociedade neoliberal do consumo que identificam cidadania com capacidade de consumir, geralmente nos jornalões da mídia comercial, nem merecem consideração. São de uma indigência analítica de fazer vergonha.
Mas houve outras análises que foram ao cerne da questão como a do jornalista Mauro Santayana do JB on-line e as de três  especialistas que avaliaram a irrupção dos rolês na visibilidade pública e o elemento explosivo que contém. Refiro-me à Valquíria Padilha, professora de sociologia na USP de Ribeirão Preto:”Shopping Center: a catedral das mercadorias”(Boitempo 2006), ao sociólogo da Universidade Federal de Juiz de Fora, Jessé Souza,”Ralé brasileira: quem é e como vive (UFMG 2009) e  de Rosa Pinheiro Machado, cientista social com um artigo”Etnografia do Rolezinho”no Zero Hora de 18/1/2014. Os três deram entrevistas esclarecedoras.
Eu por minha parte interpreto da seguinte forma tal irrupção:
Em primeiro lugar, são jovens pobres, das grandes periferias,  sem espaços de lazer e de cultura, penalizados por serviços públicos ausentes ou muito ruins como saúde, escola, infra-estrutura sanitária, transporte, lazer e segurança. Veem televisão cujas propagandas os seduzem para um consumo que nunca vão poder realizar. E sabem manejar computadores e entrar nas redes sociais para articular encontros. Seria ridículo exigir deles que teoricamente tematizem sua insatisfação. Mas sentem na pele o quanto nossa sociedade é malvada porque exclui, despreza e mantém os filhos e filhas da pobreza na invisibilidade forçada. O que se esconde por trás de sua irrupção? O fato de não serem incluidos no contrato social. Não adianta termos uma “constituição cidadã” que neste aspecto é apenas retórica, pois  implementou muito pouco do que prometeu em vista da inclusão social. Eles estão fora, não contam, nem sequer servem de carvão  para o consumo de nossa fábrica social (Darcy Ribeiro). Estar incluído no contrato social significa ver garantidos os serviços básicos: saúde, educação, moradia, transporte, cultura, lazer e segurança. Quase nada disso funciona nas periferias. O que eles estão dizendo com suas penetrações nos bunkers do consumo? “Oia nóis na fita”; “nois não tamo parado”;”nóis tamo aqui para zoar”(incomodar). Eles estão com seu comportamento rompendo as barreiras do aparheid social. É uma denúncia de um país altamente injusto (eticamente), dos mais desiguais do mundo (socialmente), organizado sobre um grave pecado social pois contradiz o  projeto de Deus (teologicamente). Nossa sociedade é conservadora e nossas elites altamente insensíveis  à paixão de seus semelhantes e por isso cínicas. Continuamos uma Belíndia: uma Bélgica rica dentro de uma India pobre. Tudo isso os rolezinhos denunciam, por atos e menos por palavras.
Em segundo lugar,  eles denunciam a nossa maior chaga: a desigualdade social cujo verdadeiro nome é injustiça histórica e social. Releva, no entanto, constatar que com as políticas sociais do governo do PT a desigualdade diminiui, pois segundo o IPEA os 10% mais pobres tiveram entre 2001-2011 um crescimento de renda acumulado de 91,2% enquanto a parte mais rica cresceu 16,6%. Mas esta diferença não atingiu a raíz do problema pois o que supera a desigualdade é uma infraestrutura social de saúde, escola, transporte, cultura e lazer que funcione e acessível a todos. Não é suficiente transferir renda; tem que criar oportunidades e oferecer serviços, coisa que não foi o foco principal no Ministério de Desenvolvimento Social. O “Atlas da Exclusão Social” de Márcio Poschmann (Cortez 2004) nos mostra que há cerca de 60 milhões de famílias,  das quais cinco mil famílias extensas detém 45% da riqueza nacional. Democracia sem igualdade, que é seu pressupsto, é farsa e retórica. Os rolezinhos denunciam essa contradição. Eles entram no “paraíso das mercadorias” vistas virtualmente na TV para ve-las realmente e senti-las nas mãos. Eis o sacrilégio insuportável pelos donos do shoppings. Eles não sabem dialogar, chamam logo a polícia para bater e fecham as portas a esses bárbaros. Sim, bem o viu T.Todorov em seu livro “Os novos bárbaros”: os marginalizados do mundo inteiro estão saindo da margem e indo rumo ao centro para suscitar a má consciência dos “consumidores felizes” e lhes dizer: esta ordem é ordem na desordem. Ela os faz frustrados e infelizes, tomados de medo, medo dos próprios semelhantes que somos nós.
Por fim, os rolezinhos não querem apenas consumir. Não são animaizinhos famintos. Eles tem fome sim, mas fome de reconhecimento, de acolhida na sociedade, de lazer, de cultura e de mostrar o que sabem: cantar, dançar, criar poemas críticos, celebrar a convivência humana. E querem trabalhar para ganhar sua vida. Tudo isso lhes é negado, porque, por serem pobres, negros, mestiços sem olhos azuis e cabelos loiros, são desperezados e mantidos longe, na margem.
Esse tipo de sociedade pode ser chamada ainda de humana e civilizada? Ou é uma forma travestida de barbárie? Esta última lhe convem mais. Os rolezinhos mexeram numa pedra que começou a rolar. Só parará se houver mudanças.

Os Salmos: a anatomia da alma humana


Os salmos constituem uma  das formas mais altas de oração que a humanidade produziu. Milhões e milhões de pessoas, judeus, cristãos e religiosos de todas as tradições, dia a dia, recitam e cantam salmos, especialmente os religiosos e religiosas e os padres no assim chamado “ofício das horas”diário.
Não sabemos exatamente quem seus autores, pois eles recolhem as orações que circulavam no  meio do povo. Seguramente muitos são de Davi (século X a.C). É considerado, por excelência, o protótipo do salmista. Foi pastor, guerreiro, profeta, poeta, músico, rei e profundamente religioso. Conquistou o Monte Sion dentro de Jerusalém e lá, ao redor da Arca da Aliança, organizou o culto e introduziu os salmos.
Quando se diz “salmo de Davi” na maioria das vezes significa: “salmo feito no estilo de Davi”. Os salmos surgiram no arco de quase mil anos, nos lugares de culto e recitados pelo povo até serem recopilados na época dos Macabeus no século II.a.C. O saltério é um microcosmo histórico, semelhante a uma catedral da Idade Média, construída durante séculos, por gerações e gerações, por milhares de mãos e incorporando as mudanças de estilo arquitetônico das várias épocas. Assim há salmos que revelam diferentes concepções de Deus, próprias de certa época, como aqueles, estranhas para nós, que expressam o desejo de vingança e o juízo implacável de Deus.
Os salmos testemunham a profunda convicção de que Deus, não obstante habitar numa luz inacessível, está em nosso meio, morando como que numa tenda (shekinah). Podemos chegar a Ele, em súplicas, lamentações, louvores e ações de graças. Ele está sempre pronto para escutar.
O lugar denso de sua presença é o Templo onde se cantam os salmos. Mas como Criador do céu e da terra, está igualmente em todos os lugares, embora nenhum possa contê-lo.
Com razão, se orgulhavam os hebreus dizendo: “ninguém tem um Deus tão próximo como nós”! Próximo de cada um e no meio de seu povo. Os salmos revelam a consciência da proximidade divina e do amparo consolador. Por isso há neles intimidade pessoal sem cair no intimismo individualista. Há oração coletiva sem destituir a experiência pessoal. Uma dimensão reforça a outra, pois cada uma é verdadeira: não há pessoas sem o povo no qual estão inseridas e não há povo sem pessoas livres que o formam.
Ao rezar os salmos, encontramos neles a nossa radiografia espiritual, pessoal e coletiva. Neles identificamos nossos estados de ânimo:  desespero e alegria, medo e confiança, luto e dança, vontade de vingança e  desejo de perdão, interioridade e fascinação pela grandeza do céu estrelado. Bem o expressou o reformador João Calvino (1509-1564) no prefácio de seu grandioso comentário aos salmos:
“Costumo definir este livro como uma anatomia de todas as partes da alma, porque não há sentimento no ser humano que não esteja aí representado como num espelho. Diria que o Espírito Santo colocou ali, ao vivo, todas as dores, todas as tristezas, todos os temores, todas as dúvidas, todas as esperanças, todas as preocupações, todas as perplexidades até as emoções mais confusas que agitam habitualmente o espírito humano”.
Pelo fato de revelarem nossa autobiografia espiritual, os salmos representam a palavra do ser humano a  Deus e, ao mesmo tempo, a palavra de Deus ao ser humano. O saltério serviu sempre como  livro de consolação e fonte secreta de sentido, especialmente quando irrompe na humanidade o desamparo, a perseguição, a injustiça e a ameaça de morte. O filósofo francês Henri Bergson (1859-1941) deu este insuspeitado testemunho:”Das centenas de livros que li nenhum me trouxe tanta luz e conforto quanto estes poucos versos do salmo 23: O Senhor é meu pastor e nada me falta; ainda que ande por um vale tenebroso, não temo mal nenhum, porque Tu estás comigo”.
Um judeu, por exemplo, cercado de filhos, era empurrado, para as câmaras de gás em Auschwitz. Ele sabia que caminhava para o extermínio. Mesmo assim, ia recitando alto o salmo 23: “O Senhor é meu pastor…Ainda que eu ande pela sombra do  vale da morte, nenhum mal temerei, porque Tu estás comigo”. A morte não rompe a comunhão com Deus. É passagem, mesmo dolorosa, para o grande abraço infinito da paz eterna.
Por fim, os salmos são poesias religiosas e místicas da mais alta expressão. Como toda poesia, recriam a realidade com metáforas e imagens tiradas do imaginário. Este obedece a uma lógica própria, diferente daquela da racionalidade. Pelo imaginário, transfiguramos situações e fatos detectando neles sentidos ocultos e mensagens divinas. Por isso dizemos que não só habitamos prosaicamente o mundo, colhendo o sentido manifesto do desenrolar rotineiro dos acontecimentos. Habitamos também poeticamene o mundo, vendo o outro lado das coisas e um outro mundo dentro do mundo de beleza e de  encantamento.
Os salmos nos ensinam a habitar poeticamente a realidade. Então ela se transmuta num grande sacramento de Deus, cheia de sabedoria, de admoestações e de lições que tornam mais seguro nosso peregrinar rumo à Fonte. Como bem diz o salmista: “quando caminho entre perigos, tu me conservas a vida…e estás  até o fim a meu favor” (Salmo 138, 7-8).
Leonardo Boff é autor de  O Senhor é meu Pastor: consolo divino para o desamparo humano, Vozes 2013.