quarta-feira, 4 de junho de 2014

Plebiscito popular: para que?

Nós temos uma tendência doentia de resolver os problemas: passamos uma tinta para esconder as feridas. A rua está insegura? Vamos construir um muro ao redor da casa e colocar em cima uma boa cerca elétrica. Mas não tiramos as razões da violência. O deputado é corrupto? A condenação está na boca de todos, mas nas eleições ele continua sendo votado e eleito. No campo da política pública acontece o mesmo: em manifestações populares, pacíficas ou violentas, aparecem o descontentamento e a revolta, mas quando surge a possibilidade de sanar as feridas, os  “homens bons”, como eram chamados antigamente os que não trabalhavam manualmente e que   tinham terras e escravos, bloqueiam as reformas e o povo vai atrás. Oh! meu Brasil, quando vai acordar de verdade?  Há um ano atrás, movimentos de massa ensaiaram um protesto formidável. Até o governo da Dilma assustou e procurou responder ao clamor popular. No campo da saúde veio o plano “ mais médicos” hostilizado imediatamente pela elite do país. No campo político  veio a proposta de um plebiscito , logo afundada pelos deputados ligados a interesses econômicos ( bancada ruralista etc,...). Quando se acha um remédio, o doente foge! Mas, apesar de tudo, pelo bem da nação, não podemos desistir.  No dia 28 de Maio aconteceu no Centro Cultural Caravideo uma assembleia que discutiu a iniciativa de um plebiscito popular a ser realizado na semana da pátria ( 1 a 7 de setembro ) coincidindo com o Grito dos Excluídos. Os presentes decidiram apoiar a ideia de plebiscito como meio de pressão para que o parlamento execute a reforma política e marcaram outra assembleia, aberta a todos, no mesmo local, para o dia 25 de julho próximo. É uma tentativa de cortar o mal pela raiz. Não se trata simplesmente de uma reforma eleitoral, mas de gerar instrumentos para que o povo, verdadeiro dono do Brasil, comande o processo de renovação em todos os níveis. É verdade que circula no ar dos nossos dias um cheiro ruim de desesperança gerado pelo individualismo egoísta de cada um. Mas não podemos nos deixar vencer. O exemplo atualíssimo da “Copa” é um sinal que podemos mudar a situação. Eu gosto de futebol e, de todo o coração, torço pela seleção brasileira (apesar de ser italiano), mas sempre achei exagerado e quase irracional, o culto dos brasileiros pelo campeonato mundial: a nação praticamente para durante um mês e tudo é adiado “ para depois da copa”. Não aprovo os vândalos, bandidos que se acham civilizados, mas o movimento contra a “copa” está mudando o imaginário do povo brasileiro. O campeonato é um jogo e se a gente perder não será uma tragédia, não será o fim da vida e da honra do Brasil. Nós vamos vencer, é claro, mas, se perdermos, isso nos pode ajudar a cair na realidade e colocar a “copa” nos seus justos limites. Vamos, sim, trabalhar mais para sanar as feridas do país e não escondê-las com a tinta verde-amarela, lutando para melhores condições de saúde e transporte e, sobretudo, para o fim da desigualdade social. Devemos ser campeões, não somente no futebol, mas principalmente na justiça. sergiobernardoni@gmail.com