quarta-feira, 5 de março de 2014

A chuva não penetrou no chão da Igreja


Na praça São Pedro, nestes dias, o papa Francisco abraçou uma criancinha de apenas dois anos “vestida de papa”. Uma brincadeira simpática, simbólica. O Papa abraçou em realidade um novo modo de ser igreja, um novo modo da Igreja seguir Jesus, com alegria, como ele mesmo  indicou na sua primeira, rica e extensa, “Exortação ao povo de Deus”. Mas o meu pároco, o meu bispo, os fiéis entenderam este  recado? E se o entenderam, começaram a andar num caminho novo? Ouvi nestes dias as reservas de um clérigo importante, numa reunião eclesial, sobre o documento 104, da CNBB, que fala de “Comunidade de comunidades: uma nova paróquia”: “Acho exagerada a palavra “nova paróquia”, podemos melhorar, mas não mudar”. Porque ter medo da novidade? O Evangelho diz que “não se pode colocar vinho novo em odres velhos”. Por isso a prioridade é “vinho novo  em odres novos”. O Papa não indica mudanças nas bases da fé e da moral, mas a mudança no comportamento eclesial , a mudança no comportamento da hierarquia que deve voltar a ser um serviço fraterno de animação e não uma agência controladora e concentradora, a mudança dos fiéis que devem olhar e evangelizar pra fora da igreja, a mudança da subserviência para a corresponsabilidade. Ouvindo sermões de bispos e padres não percebo  muito entusiasmo pelas  dicas do papa Francisco. Antigamente estes sermões estavam cheios de : “o papa disse”, “ o papa escreveu”, “o papa fez”. Agora parece que há quase um pudor em falar do papa, um certo receio de não exagerar, uma esperança secreta que esta  forte chuva de exortações papais, venha a se estancar com o tempo até voltar tudo como estava antes. A pesar  de tudo a nossa esperança está no caminho novo , na superação de obstáculos e incompreensões, com ajuda de Deus, como diz o Salmo 18,29: “pois contigo desbarato exércitos, com o meu Deus salto muralhas”.
Sergio Bernardoni

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